Em colaboração e solidariedade com um grupo de mais de 200 profissionais de saúde palestinianos, os coletivos Israelitas pela Palestina, Humans Before Borders, Coletivo pela Libertação da Palestina, Estudantes do Porto em Defesa da Palestina e Parents for Peace Portugal organizam uma vigília de protesto contra a participação da Associação Médica Israelita na Assembleia Geral da World Medical Association (WMA), que decorre, na próxima semana, entre 8 e 11 de outubro, no Porto.
A organização da vigília denuncia a cumplicidade da Associação Médica Israelita no genocídio do povo palestiniano. Durante os dois anos que agora se cumprem da brutal ofensiva israelita sobre Gaza e perante a destruição do sistema de saúde local, a Associação Médica Israelita nunca condenou a atuação do governo sionista, como nunca reconheceu o crime de genocídio do povo palestiniano em Gaza, apesar das reiteradas denúncias de várias organizações internacionais de direitos humanos, que afirmam tratar-se inegavelmente de um genocídio, nomeadamente a Médicos Sem Fronteiras, Human Rights Watch e Amnistia Internacional. De igual forma, a associação israelita nunca teve uma palavra de condenação sobre o assassinado, rapto e prisão arbitrária de médicos e enfermeiros palestinianos, como também nunca condenou a participação de médicos israelitas nos abusos, incluindo sob formas de tortura, que acontecem contra presos palestinianos. Mesmo perante as provas da participação de médicos israelitas na operação do campo de tortura de Sde Teiman, e perante a recusa de médicos israelitas assistirem pacientes palestinianos, a associação manteve-se em silêncio. Quando médicos palestinianos a servirem em hospitais israelitas foram discriminados e perseguidos, também por colegas de profissão israelitas, a associação recusou-se a apoiá-los. Como demonstra o relatório Medical Ethics and the Detention of Gaza Residents since the Start of the 2023 War, a Associação Médica Israelita continua a permitir que os profissionais que representa cometam violações inaceitáveis e protege-os das devidas repercussões legais. Para os organizadores da vigília, é claro o posicionamento da associação israelita perante o genocídio do povo palestiniano: trata-se de cumplicidade, encobrimento e aceitação. Conforme já denunciado designadamente por membros da organização Physicians for Human Rights, a classe médica israelita viola sistematicamente os princípios éticos mais básicos da medicina, desde logo o de agir sempre em benefício do paciente e o de atuar em conformidade com o princípio do direito de todos a serem assistidos de igual forma.
A WMA afirma defender a ética médica, a não discriminação e os direitos humanos na medicina, bem como a prevenção da tortura. Diz-se igualmente comprometida com a proteção de médicos e doentes em perigo, e toma como sua responsabilidade intervir para denunciar violações dos direitos de médicos e pacientes em todo o mundo. A participação da Associação Médica Israelita na WMA e nos seus eventos desrespeita estes princípios. Perante isto, a organização da vigília exige:
a expulsão imediata da Associação Médica Israelita da WMA;
bem como que as restantes associações médicas nacionais que integram a WMA se comprometam a (1) condenar publicamente a associação israelita e os abusos cometidos pelos seus membros; (2) apoiar investigações independentes sobre os crimes de guerra com intervenção médica e as violações de ética médica por parte de Israel; e (3) atuar para proteger médicos e profissionais de saúde palestinianos, através de pressão política e institucional sobre o governo israelita, respetivos governos nacionais e instituições europeias.
Relativamente a este último aspeto, há a sublinhar o recente comunicado conjunto da Associação Médica Turca e da Associação Médica Britânica, onde se apela a que as restantes associações nacionais da WMA ajam pelo fim do massacre em Gaza, envolvendo os médicos de todos os países associados na exigência de medidas concretas que ponham fim ao sofrimento dos palestinianos. A organização da vigília lembra que, entre as medidas concretas que a WMA deve forçar, está a de exigir a Israel que o tratamento médico de palestinianos detidos nas prisões e encurralados em Gaza seja determinado exclusivamente pelas suas necessidades médicas e pelas decisões dos seus prestadores de cuidados de saúde, sem qualquer interferência de considerações políticas ou de qualquer forma de discriminação.
Os hospitais em Gaza estão em situação absolutamente crítica, estando apenas 14 em funcionamento em toda a Faixa de Gaza, segundo os números mais recentes da Organização Mundial de Saúde (OMS). Nenhum destes 14 está a funcionar em plena capacidade, faltando segurança aos profissionais de saúde, com bombardeamentos a acontecerem nas imediações dos hospitais. Há igualmente uma imensa falta de recursos, com amputações e outras intervenções cirúrgicas a serem realizadas sem anestesia, analgésicos e outra medicação importante. Intervenções feitas nestas condições implicam um enorme sofrimento para os pacientes, incluindo crianças, profundamente traumatizadas por aquilo que são obrigadas a experienciar. Segundo dados da OMS, atualmente, são mais de 15.000 mil as pessoas, entre as quais crianças, que necessitam de ser evacuadas por razões médicas, mas as evacuações continuam a acontecer a um ritmo muito lento, não apenas porque a comunidade internacional não tem feito o devido esforço (Portugal está entre os países que ainda não se disponibilizou para receber evacuações médicas), mas também porque o governo israelita controla as evacuações, e não cumpre o direito de todos serem assistidos, aspeto determinante da ética médica, por cujo cumprimento rigoroso a Associação Médica Israelita devia pugnar.
A Assembleia Geral da WMA é a maior conferência global de associações médicas nacionais, que traz à cidade do Porto, entre 8 e 11 de outubro, centenas de profissionais de saúde. O evento decorrerá no Hotel Pestana Douro Riverside. A vigília de protesto contra a participação da Associação Médica Israelita e profissionais israelitas está convocada para a entrada do hotel. Os coletivos da organização apelam a que os cidadãos se juntem à vigília, onde serão lidos os nomes dos profissionais de saúde assassinados pelas forças israelitas em Gaza. Em memória dos palestinianos assassinados, formar-se-á um cordão de gente vestida com batas médicas manchadas de vermelho. O protesto repete-se em dois dias diferentes, na abertura do evento (dia 8 out.) e no último dia (dia 11 out.), entre o início e o fim da tarde.
O European Days of Jewish Culture (EDJC) é um evento de nível europeu que se realiza anualmente, desde 1999, em várias cidades, com o propósito de promover o judaísmo e a sua História em território europeu. Em Portugal, acontecerá pela terceira vez, este domingo, dia 7 de setembro – este ano, como nas duas edições anteriores, no Porto. Por regra, são de saudar as iniciativas que promovem e celebram a diversidade cultural e religiosa. Nenhuma ressalva teríamos quanto ao EDJC se o propósito fosse exclusivamente este. Na verdade, nunca foi exclusivamente este, e dado o contexto atual da violência da ocupação israelita na Palestina, cabe, hoje mais do que nunca, denunciar e condenar as formas que o sionismo encontra para se mascarar e branquear através do judaísmo.
Deve manter-se como verdade incontornável que celebrar o judaísmo não é nem pode ser sinónimo de celebrar o sionismo, mesmo que o EDJC e as várias organizações que o coordenam pareçam esforçar-se, cada vez mais vincadamente, por tentar que ambos, judaísmo e sionismo, sejam, na percepção do público geral, uma e a mesma coisa. Temos testemunhado a pressão israelita para tentar intencionalmente firmar essa confusão – com consequências potencialmente graves ao nível da distinção entre o que se deve considerar ser crime de discriminação anti-semita e direito de liberdade de expressão para se condenar o Estado de israel – e o EDJC é mais um instrumento para esse esforço.
O EDJC é coordenado pela Associação Europeia para a Preservação e Promoção da Cultura e Património Judaicos (AEPJ), rede europeia de organizações não-governamentais, cuja maioria das afiliadas é manifestamente sionista, algumas delas defendendo inclusivamente, como parte integrante da sua missão, o apoio ao Estado de israel. A estrutura maior, ao nível da Comissão Europeia, que apoia eventos como o EDJC tem o rosto de Katharina von Schnurbein, Coordenadora para o combate ao anti-semitismo e a promoção da vida judaica. von Schnurbein é uma declarada apoiante do Estado israelita, que tem nomeadamente procurado travar as discussões sobre possíveis sanções europeias a israel, no contexto do actual genocídio em Gaza – razão que levou 26 eurodeputados a fazer um pedido de demissão de von Schnurbein, no passado mês de julho, junto da Comissão. São já várias as declarações polémicas de von Schnurbein, nomeadamente quando acusou funcionários da União Europeia que organizaram eventos de solidariedade com Gaza de criarem um “ambiente de anti-semitismo”. O equívoco de que manifestar-se solidariedade com a Palestina é manifestar-se aversão ou ódio aos judeus tem sido promovido ao mais alto nível, a partir da Comissão Europeia, na figura de uma coordenadora que, ao invés de proteger as comunidades judaicas na Europa, procura proteger um governo estrangeiro do escrutínio político e jurídico a que está sujeito. O EDJC é o maior de vários eventos europeus que servem para irradiar este equívoco, até ao nível mais local, junto de cada sinagoga e comunidade envolvente em território europeu.
A Comunidade Judaica do Porto, com sede na Sinagoga Kadoorie Mekor Haim, é uma das instituições que nunca perde a oportunidade de vincar este equívoco. A Comunidade participa novamente, este ano, no EDJC, e a organização do evento é feita em estreita colaboração com a Embaixada de israel em Portugal e com a Biblioteca Nacional de israel. O envolvimento desta Comunidade com o Estado sionista tem sido claro, ao longo dos anos. A co-organização do evento deste domingo atesta bem o comprometimento político e ideológico que a Comunidade mantém com israel. Esta tem também sido responsável por uma grande parte das certificações de ascendência sefardita que permitem apoiar pedidos de nacionalidade portuguesa de israelitas – de notar que estes correspondem, noticiou-se recentemente, a 40% dos novos portugueses. De resto, são já do conhecimento público as acusações de, entre outras, crimes de tráfico de influência, corrupção ativa, falsificação de documentos e associação criminosa, que o Ministério Público fez ao rabino da Comunidade.
Segundo as informações constantes no website da AEPJ, há ainda um segundo evento do EDJC a decorrer no Porto, no mesmo dia 7 de setembro, promovido pela congregação religiosa HaMaKom e pela Igreja Anglicana de St. James. A HaMaKom apresenta-se como manifestamente sionista. São estas as palavras que escolhe para se descrever, na sua página online: “We are a community that supports Israel”. Ambos os eventos do EDJC que vão decorrer no Porto são não esforços de promoção do judaísmo pacífico e da diversidade que nele existe, mas esforços para confundir um projecto repressivo, nacionalista e colonialista, que é o sionismo, com os judeus e o judaísmo.
À medida que as denúncias e críticas à atuação de israel crescem de forma cada vez mais visível, a presença da propaganda pró-israel vai-se sentindo a empeçonhar a legítima celebração do judaísmo pacífico e humanista. E várias comunidades judaicas, como a do Porto, vão tentando mascarar a propaganda pró-sionista que promovem com acusações de anti-semitismo dirigidas a todos os que criticam a sua actuação.
No contexto actual em particular, o EDJC deveria servir para recordar que os judeus europeus (como os do resto do mundo) não devem ser culpabilizados pelos crimes de israel, mas tão pouco devem permanecer em silêncio quando a sua religião e cultura estão a ser instrumentalizadas para legitimar a existência de um Estado criminoso, que leva a cabo a mais longa ocupação militar da história contemporânea e o que várias organizações internacionais de direitos humanos (como a Médicos Sem Fronteiras, Human Rights Watch e Amnistia Internacional), a Relatora Especial da Organização das Nações Unidas para a Situação dos Direitos Humanos nos Territórios Palestinianos Ocupados e, mais recentemente, a Associação Internacional de Académicos de Genocídio afirma ser, sem margem para dúvidas, o crime de genocídio do povo palestiniano. As comemorações do EDJC em Portugal têm mais uma vez, este ano, a mão da hasbara, propaganda pró-sionista, que assenta muitas vezes no equívoco de que o Estado de israel representa todos os judeus do mundo. Claramente, não representa, e bem hajam os vários milhares de judeus que, pelo mundo, têm dito “não em nosso nome”.
5 de setembro 2025
Parents for Peace Portugal
Coletivo pela Libertação da Palestina
Humans Before Borders
Estudantes do Porto em Defesa da Palestina
Como falar da Palestina às crianças?
Parents for Peace organizam Guia de Livros para Educar sobre a Palestina
15 de agosto de 2025
O colectivo Parents for Peace Portugal lançou um Guia de Livros para Educar sobre a Palestina, com sugestões de livros editados em português que permitem abordar, com crianças e jovens, temas relacionados com a libertação da Palestina e a condição dos palestinianos.
O Guia visa apoiar mães, pais, cuidadores e educadores a discutirem a questão da Palestina, num contexto onde rareiam os materiais feitos para crianças e jovens para se discutir os direitos dos palestinianos. No mercado editorial português, são praticamente inexistentes os livros infantis e juvenis que abordam a História e direitos dos palestinianos. O Guia organizado pelo Parents for Peace reúne 26 sugestões que mais ou menos directamente permitem discutir e aprofundar estes temas.
Os valores basilares dos seres humanos estabelecem-se desde muito cedo. Podemos e devemos falar de temas importantes como guerra e paz, vida e morte, justiça e injustiça, em qualquer idade, a qualquer criança. É fundamental, hoje, discutir a questão da Palestina com crianças e jovens, não só na Palestina e em países árabes, mas também em Portugal e por todo o mundo. Não apenas pela recorrência e gravidade das notícias sobre o genocídio em curso em Gaza, levado a cabo por israel, mas também porque a causa da Palestina se tornou particularmente simbólica para se discutirem valores como paz, solidariedade, empatia e dignidade, nomeadamente por três razões: (1) a Palestina vive a mais longa ocupação militar da História moderna, levada a cabo por israel, com o apoio fundamental dos Estados Unidos da América e da União Europeia, onde Portugal está naturalmente incluído; (2) israel, o Estado ocupante, é o país que na Organização das Nações Unidas (ONU), ao longo dos anos, mais decisões violou e recomendações incumpriu; (3) a atual agressão sobre Gaza é o maior genocídio do nosso tempo – nunca um genocídio foi tão documentado como este, havendo provas irrefutáveis dos crimes de guerra e contra a humanidade cometidos por israel.
O Guia pretende, assim, incentivar e apoiar mais pais e educadores a falarem com as crianças e os jovens sobre a Palestina, através de 26 sugestões de leitura, cerca de quatro para cada faixa etária, desde os três aos 17 anos de idade. O Guia inclui livros de pequenos projetos editoriais a grandes grupos editoriais nacionais ou com representação em Portugal. Para a seleção, manteve-se como critério principal a possibilidade de permitir abordar a questão da libertação da Palestina e outros temas associados, bem como o princípio de serem livros traduzidos para português e publicados em Portugal, de fácil acesso, quer através de livrarias, quer através de bibliotecas, ou até, de modo gratuito, online.
O Parents for Peace, através desta iniciativa, pretende ainda incentivar editores, autores e tradutores do mercado editorial português a publicarem mais livros infantis e juvenis sobre a Palestina.
O Parents for Peace é um colectivo de mães, pais e cuidadores na luta pelos direitos das crianças e famílias na Palestina e no mundo, desde janeiro de 2024. Nas iniciativas que promove e às quais se junta, o Parents for Peace procura apoiar pais e cuidadores a envolverem as suas crianças, para que, desde cedo, aprendam a valorizar e lutar pela justiça e dignidade dos povos.
O Guia pode ser consultado aqui.
11 de julho de 2025
Um grupo de cidadãs e cidadãos solidários com a Palestina, em associação com vários coletivos, anuncia uma vigília de protesto durante o Festival da Comida Continente, que decorrerá na entrada do Parque da Cidade do Porto, no dia 12 de julho, a partir das 15 horas. A iniciativa pretende chamar a atenção para o papel do setor privado, em particular das grandes corporações como o grupo Sonae, na manutenção da ocupação ilegal e limpeza étnica da Palestina e no genocídio em Gaza, perpetrados por Israel. Em linha com os princípios que regem o movimento internacional Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) e com as conclusões apresentadas no recente relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) From Economy of Ocupation to Economy of Genocide[1] o protesto denuncia a participação do grupo Sonae no sistema de cooperação comercial e financeira com entidades israelitas, que sustenta o projeto de deslocação e aniquilação do povo palestiniano.
O Continente e o grupo Sonae são coniventes com o genocídio em Gaza e a ocupação ilegal no território da Palestina, apoiando o Estado israelita no fortalecimento e expansão da sua economia. O Continente mantém relações comerciais com várias empresas israelitas, das quais comercializa os produtos através dos seus supermercados junto dos consumidores portugueses, e a Bright Pixel Capital (anteriormente, designada Sonae IM), braço de investimento em capital de risco do Grupo Sonae, tem confirmados vários investimentos em empresas israelitas – por exemplo, ciValue, CB4, Cellwize, Harmonya, Tamnoon, Sixgill, Vicarius e SafeBreach, estando estas últimas focadas no tema da cibersegurança. De notar que as empresas tecnológicas, nomeadamente as de cibersegurança e inteligência artificial, têm sido fundamentais para fornecerem às Forças de Defesa de Israel ferramentas e serviços que lhes permitem cometer crimes de guerra em Gaza, bem como levar a cabo a ocupação ilegal e repressiva em todo o território da Palestina. Pelo menos uma das empresas em que a Sonae investiu tem mesmo relações diretas com as FDI: o fundador da Vicarius, Michael Assraf, é um orgulhoso ex-soldado das FDI e organizou, no pós-7 de outubro, uma angariação de fundos para os reservistas de dois batalhões das FDI[2].
Para os casos de investimento mencionados, nem sempre os valores de investimento foram divulgados, mas, do que foi confirmado aos meios de comunicação social, os investimentos da Bright Pixel Capital em empresas israelitas rondam os 100 milhões de dólares americanos. Este volume de investimentos representa uma clara indiferença perante as graves violações do direito internacional por parte de Israel - de lembrar que este é o país que, ao longo dos anos, mais violou e mais vezes incumpriu decisões e recomendações da ONU, organismo maior pela paz no mundo. As relações comerciais e de investimento que o grupo Sonae mantém com entidades israelitas normalizam a existência e atuação de um regime acusado de crimes de guerra, nomeadamente o uso da fome como arma de guerra[3], como está a acontecer em Gaza, chegando ao ponto de impedir a entrada de leite de fórmula para os bebés prematuros a receberem cuidados médicos.
A atuação do grupo Sonae e do Continente está, assim, potencialmente em incumprimento das normas europeias previstas na Diretiva de Due Diligence de Sustentabilidade Corporativa (CSDDD), regulamento da União Europeia que entrou em vigor em julho de 2024, e que exige às empresas que identifiquem e previnam impactos negativos da sua atividade sobre os direitos humanos, designadamente ao nível das suas cadeias de valor. Ao abrigo desta diretiva, as empresas abrangidas, onde se inclui a Sonae, estão obrigadas a responder perante os impactos nefastos das suas ações, dentro, mas também fora do espaço europeu.
As empresas não podem continuar indiferentes e cooperantes com o genocídio[4]. Têm uma responsabilidade corporativa que está consagrada na legislação europeia, se não está nos códigos éticos de quem as gere. Vários grupos comerciais na Europa já deram o exemplo: a Coop Allianz 3.0 (Itália) já deixou de comercializar produtos israelitas[5] e o grupo Co-op (Reino Unido) assumiu recentemente que irá fazer o mesmo[6]. O Continente deve igualmente assumir responsabilidades.
A organização do protesto irá lançar, algumas horas antes do protesto, uma Carta Aberta dirigida ao grupo Sonae e ao Continente, apelando à retirada imediata de todos os produtos de origem israelita das prateleiras do Continente e ao fim dos investimentos da Bright Pixel Capital em entidades, empresas e start-up israelitas. A ação tem ainda o objetivo de informar os consumidores sobre as iniciativas do movimento BDS, dissuadindo-os da compra de produtos israelitas.
Descrição da Ação
O protesto aconteceu na entrada do Parque da Cidade do Porto (Queimódromo), no dia 12 de julho, pelas 15h. Cidadãs e cidadãos estiveram em vigília, simbolicamente segurando bonecos em representação de bebés amortalhados e corpos ensacados, à semelhança das imagens que chegam de Gaza, para evidenciar que a fome imposta a Gaza asfixia o futuro da humanidade.
[1] United Nations Human Rights Council, A/HRC/59/23: From Economy of Occupation to Economy of Genocide – Report of the Special Rapporteur on the Situation of Human Rights in the Palestinian Territory Occupied Since 1967, Francesca Albanese, United Nations, accessed July 2, 2025, https://www.un.org/unispal/document/a-hrc-59-23-from-economy-of-occupation-to-economy-of-genocide-report-special-rapporteur-francesca-albanese-palestine-2025/
[2]https://www.linkedin.com/posts/michaelassraf_support-idf-reserve-duty-battalions-activity-7117314446502375424-yf4W?utm_medium=ios_app&rcm=ACoAADQxJ5cBf4AVFa9zKoJMkavYKvaHB7mh1Vw&utm_source=social_share_send&utm_campaign=copy_link
[3] Office of the United Nations High Commissioner for Human Rights, “Gaza: Palestinians Seeking Food Continue to Be Killed by Israeli Military – OHCHR,” United Nations, accessed July 2, 2025, https://www.un.org/unispal/document/gaza-palestinians-seeking-food-continue-to-be-killed-by-israeli-military-ohchr
[4] SOMO (Centre for Research on Multinational Corporations), Obligations of Third States and Corporations to Prevent and Punish Genocide in Gaza, June 2024, PDF file, https://www.somo.nl/wp-content/uploads/2024/06/Obligations-of-Third-States-and-Corporations-to-Prevent-and-Punish-Genocide-in-Gaza-3.pdf
[5] RTP, “Solidariedade: Maior Rede de Supermercados de Itália Deixa de Vender Produtos Israelitas,” RTP Notícias, accessed July 2, 2025 https://www.rtp.pt/noticias/economia/solidariedade-maior-rede-de-supermercados-de-italia-deixa-de-vender-produtos-israelitas_n1664721
[6] ABNA24, “UK’s Largest Supermarket Chains to Stop Sourcing Israeli Products,” AhlulBayt News Agency, accessed July 2, 2025, https://en.abna24.com/news/1701652/UK-s-largest-supermarket-chains-to-stop-sourcing-Israeli-products
187 organizações e coletivos europeus, entre as quais o PfP, reclamam suspensão do Acordo de Associação EU-israel
8 de julho de 2025
187 organizações europeias de direitos humanos, ajuda humanitária e sindicais, nomeadamente o Parents for Peace Portugal, apresentaram uma declaração pública instando à atuação da União Europeia (UE) e seus Estados Membros no sentido de suspender o Acordo de Associação UE-israel. A ocupação sionista tem sistematicamente mostrado o seu desrespeito pelos direitos humanos e princípios democráticos. São necessárias sanções concretas e imediatas. A suspensão que se insta a EU a fazer cumprir é uma medida obrigatória, já que o artigo 2.ª do Acordo de Associação refere como “elemento essencial” o respeito pelos direitos humano. israel não cumpriu, não cumpre, nem faz tenções de cumprir este artigo – nem em Gaza, nem no Território Palestiniano Ocupado, nem na sua atuação perante os restantes países da região. A existência do Estado israelita é o maior fator de instabilidade da região do Médio Oriente.
The undersigned human rights and humanitarian organizations and trade unions* urge the EU to ensure that the ongoing review of Israel’s compliance with article 2 of the EU-Israel Association Agreement be thorough, comprehensive, and credible.
Article 2 establishes that respect for human rights and democratic principles constitutes an “essential element” of the agreement. Amid overwhelming evidence of Israel’s atrocity crimes and other egregious human rights abuses against Palestinians throughout the Occupied Palestinian Territory (OPT), a credible review can only reach one conclusion: that Israel is in severe non-compliance with article 2.
In light of this, we call on the European Commission and all EU Member States to support meaningful and concrete measures, including the suspension of the EU-Israel Association Agreement, at least in part.
We are appalled that it took the EU so long to launch this review, despite a request by Spain and Ireland already in February 2024, international court rulings, arrest warrants issued by International Criminal Court, and numerous reports by UN bodies, independent experts, prominent NGOs and scholars exposing Israel’s very serious violations of human rights and international humanitarian law throughout the OPT, including war crimes, crimes against humanity - including forced displacement, apartheid and extermination - and genocide.
Some of these findings were presented to EU foreign ministers in November 2024; but instead of moving towards the suspension of the agreement and taking other appropriate measures, the ministers only agreed to convene a meeting of the EU-Israel Association Council, in which they called for a ceasefire, humanitarian aid at scale, full respect for IHL, and a halting of Israel’s illegal settlement policy. Israeli authorities blatantly did the exact opposite of all that, once again to no consequence for EU-Israel bilateral relations – until now.
The context in which this review is being conducted is dramatic and requires urgent and effective action. For months, Israel has completely blocked aid from entering the occupied Gaza Strip, and then tried to replace the UN-led humanitarian aid system in Gaza with military-led distribution hubs, where high numbers of killings of civilians seeking aid have been recorded. This is in breach of Israel’s obligations under IHL as an occupying power, and of three binding rulings issued by the International Court of Justice (ICJ) in January, March and May 2024, ordering Israeli authorities to allow the unhindered provision of urgently needed humanitarian aid at scale throughout Gaza to prevent a genocide.
This, along with the expansion of Israel’s military operations in Gaza targeting life-sustaining infrastructures, healthcare facilities, shelters, and killing and maiming thousands of civilians since a fragile ceasefire was broken, has continued to cause unspeakable suffering to the illegally besieged Palestinians in Gaza.
As parties to the Genocide Convention, all EU member states have the obligation to “employ all means reasonably available to them” to prevent a genocide. That obligation arises not when a definitive judicial determination is made, but as soon as a state learns, or should normally have learned, of a serious risk that genocide may be committed. The International Court of Justice provided clear guidance in that regard. EU action is long overdue.
But while Gaza might have been the trigger for launching the review of article 2 of the Association Agreement, the scope of the review is broader, concerning Israel’s respect for “human rights and democratic principles”. We note, in that regard, the landmark July 2024 advisory opinion by the ICJ, which found Israel’s occupation of the OPT to be illegal, in breach of the Palestinians’ right to self-determination, and characterised by other serious violations, including systematic discrimination and racial segregation, as well as unlawful violence and displacement, demolitions, illegal settlements expansion and land seizure. In September, the UN General Assembly adopted a resolution largely endorsing that ruling, and formulating a series of calls that have been ignored by Israeli authorities. Furthermore, reports from human rights groups and UN investigations also highlight torture against Palestinians held in Israeli prisons, leading to multiple deaths.
In this context, a weak or inconclusive review of Israel’s compliance with article 2, and/or failure by the Commission and Council to suspend at least part of the Association Agreement, would ultimately destroy what’s left of the EU’s credibility - and, most importantly, it would further embolden Israeli authorities to continue their atrocity crimes and other egregious violations against the Palestinians in total impunity.
The EU must act now, as it long should have.
11.11.11
Academics for Palestine
Act Church of Sweden
Action for Women
ActionAid Denmark
ActionAid France
ActionAid Ireland
ActionAid Italy
ACV-CSC Belgium
Al Mezan Center for Human Rights
Ambasada Rog
Amigas de la Tierra España
Amnesty International
ARSIS - Association for the Social Support of Youth
Aseistakieltäytyjäliitto
Ashar Gan ETS
Associação Intervenção Democrática - ID
Associação para a Cooperação Entre os Povos (ACEP)
Association Belgo-Palestinienne WB
Association des Universitaires pour le Respect du Droit International en Palestine (AURDIP)
Association France Palestine Solidarité (AFPS)
ATTAC Hungary
AVAAZ
Avocats Sans Frontières
Belgian Academics and Artists for Palestine (BA4P)
Bloody Sunday Trust
Broederlijk Delen
Cairo Institute for Human Rights Studies
Centre de Recherche et d’Informations pour le Développement (CRID)
Centre for Global Education
CESP-Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal
CGT (Confédération générale du Travail)
Changemakers Lab
Child Rights International Network (CRIN)
Christian Aid Ireland
CIDAC
CIDSE - international family of Catholic social justice organisations
CISS - Cooperazione Internazionale Sud Sud
CIVICUS
CNCD-11.11.11
Collectif Judéo-Arabe et Citoyen pour la Palestine (CJACP)
Comhlámh
Comisiones Obreras (CCOO) – Spain
Comité de Solidaridad con la Causa Árabe
Comité de Solidariedade com a Palestina
Comunità Impegno Servizio Volontariato (CISV)
Confédération paysanne
Confederazione Generale Italiana del Lavoro (CGIL)
Consorzio delle Ong Piemontesi ETS
COPE - Cooperazione Paesi Emergenti
Cospe
Culture de Palestine
Danes je nov dan
De-Colonizer
Debt for climate Finland
Defence for Children International
Diakonia
DIGNITY - Danish Institute Against Torture
Društvo Humanitas - center za globalno učenje in sodelovanje
Dutch Scholars for Palestine
EDUCO
Egyptian Front for Human Rights (EFHR)
Ekō
Entraide et Fraternité
Equal Legal Aid
Eurocadres
Eurochild
EuroMed Rights
European Coordination of Committees and Association for Palestine - ECCP
European Coordination Via Campesina
European Jews for Palestine
European Middle East Project (EuMEP)
European Trade Union Network for Justice in Palestine
Federação Nacional de Sindicatos de Trabalhadores em funções Públicas e Sociais (FNSTFPS)
Fédération Artisans du Monde
Fenix Humanitarian Legal Aid
FENPROF - Federação Nacional dos Professores
FGTB-ABVV
Finnish Arab Friendsip Society
Finnish Development NGOs - Fingo
Finnwatch ry
FORUM MENSCHENRECHTE
Free Press Unlimited
Friends of the Earth Europe
Friends of the Earth Ireland
Fundación Mundubat
Gaza Komitee Berlin
Gibanje za pravice Palestincev
Global Witness
Hellenic League for Human Rights
HuBB - Humans Before Borders
Human Rights Watch
Humanity & Inclusion - Handicap International
HUSOME
Institute 8th of March
International Federation for Human Rights - FIDH
International Media Support
International Physicians for the Prevention of Nuclear War (IPPNW) Germany
International Rehabilitation Council of Torture Victims (IRCT)
Ireland-Palestine Solidarity Campaign
Irish Anti War Movement
Irish Congress of Trade Unions
Irish Council for Civil Liberties
Israelitas Pela Palestina (Portugal)
IZKA (Initiative for a critical academy)
Jewish Call for Peace
Judeus pela Paz e Justiça
Kairos Ireland
Kansainvälinen solidaarisuustyö ry (International Solidarity Work ry)
La Cimade
La Coordinadora de Organizaciones para el Desarrollo
LAB Sindikatua Basque Country
Medici per la Pace
MigAct z.s.
Mluvme o tom
Mouvement de la paix france
MPPM - Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente
My Voice, My Choice
Nahlieli: Jews for Justice in Palestine (Finland)
Naturefriends Greece
Ne naším jménem
NEmlcme
Nomada Association
NWRG (New Weapons Research Group) odv
Olof Palme International Center
OTC-Organizaçaõ dos Trabalhadores Científicos
OVCA - society for awareness raising and protection - center of antidiscrimination
Oxfam Ireland
Parents for Peace
PAX
Pax Christi International
Pax Christi Vlaanderen (Belgium)
Peace Institute
People in Need
PIC - Legal Center for the Protection of Human Rights and the Environment
Plan International EU Liaison Office
Plataforma por Empresas Responsables
Plataforma Portuguesa das Organizações Não Governamentais para o Desenvolvimento (Portuguese Platform of Development NGOs)
Plateforme des ONG françaises pour la Palestine
Polish-Palestinian Justice Initiative KAKTUS
Progetto Sud ETS
Proja institute
PSICOLOGI NEL MONDO - TORINO ODV ETS
Red Solidaria Contra la Ocupación de Palestina
Reporters Without Borders
Research and Universities for Palestine Network-Italy
Sadaka-the Ireland Palestine Alliance
Samos Volunteers
SB OVERSEAS - SOUTIEN BELGE OUTRE-FRONTIERES
SETEM Catalunya
Sindicato dos Professores da Região Centro
Sindikat Mladi plus (Trade Union Youth Plus)
Slovene Philanthropy, Association for the Promotion of Volunteering
SOLIDAR
Solsoc
SPZS - Sindicato dos Professores da Zona Sul
Swedish Peace and Arbitration Society (Svenska Freds)
Technology for Life
Terre des Hommes Germany
Terre des Hommes Italia
The European Legal Support Center (ELSC)
The Kvinna till Kvinna Foundation
The Palestine Solidarity Association of Sweden
The Rights Forum
The Tahrir Institute for Middle East Policy (TIMEP)
TID TIL FRED - aktiv mod krig
Trinity College Dublin Students’ Union/ Aontas Mac Léinn Choláiste na Tríonóide
União dos Sindicatos do Algarve/CGTP-IN
Unión General de Trabajadores (UGT) Spain
Union juive française pour la paix
Union syndicale Solidaires
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PfP lê Susan Abulhawa na vigília pela Palestina, no Porto
13 de junho de 2024
Durante a vigília pela Palestina do dia 13 de junho, no Porto, o Parents for Peace Portugal leu um excerto do texto que a escritora palestiniana Susan Abulhawa apresentou no debate da The Oxford Union, a 28 de novembro de 2024 (versão original aqui).
Partilhamos a tradução portuguesa deste texto que está disponível para o público, e que põe em perspectiva e sumariza uma grande parte dos horrores que têm sido cometidos pela ocupação sionista.
“Eu não responderei a perguntas até ter terminado de falar; por isso, peço que não me interrompam até lá.
Num comentário acerca do desafio que consistia em lidar com os habitantes indígenas da terra, Chaim Weizman, um judeu russo, afirmou ao Congresso Mundial Sionista, em 1921, que os palestinianos eram comparáveis às “rochas da Judeia, obstáculos que teriam de ser removidos de um caminho difícil.”
David Gruen, um judeu polaco, que mudou o seu nome para David Ben Gurion para soar mais relevante para a região, disse: "Temos de expulsar os árabes e ocupar os seus lugares."
Existiram milhares de conversas deste tipo entre os primeiros sionistas que planearam e implementaram a colonização violenta da Palestina e o aniquilamento do seu povo nativo.
Mas só foram parcialmente bem-sucedidos, assassinando ou limpando etnicamente 80% dos palestinianos, o que significou que 20% de nós permaneceram um obstáculo persistente às suas fantasias coloniais, que se tornaram o tema das suas obsessões nas décadas que se seguiram, especialmente após a conquista do que restava da Palestina em 1967.
Os sionistas lamentavam a nossa presença e debatiam publicamente, em todos os círculos — políticos, académicos, sociais, culturais — sobre o que fazer connosco; o que fazer em relação à taxa de natalidade palestiniana, em relação aos nossos bebés, que consideravam uma ameaça demográfica.
Benny Morris, que era suposto estar aqui, chegou a lamentar que Ben Gurion "não tenha acabado o trabalho" de nos eliminar a todos, o que teria evitado aquilo a que chamam "o problema árabe."
Benjamin Netanyahu, um judeu polaco cujo verdadeiro nome é Benjamin Mileikowsky, lamentou certa vez uma oportunidade perdida durante o levantamento da Praça de Tiananmen em 1989 para expulsar grandes faixas da população palestiniana "enquanto a atenção mundial estava focada na China."
Algumas das soluções que propuseram para lidar com o incómodo da nossa existência incluíram uma política de "partir-lhes os ossos" nos anos 80 e 90, ordenada por Yitzhak Rubitzov, um judeu ucraniano que mudou o seu nome para Yitzhak Rabin (pelas mesmas razões).
Essa política terrível, que incapacitou gerações de palestinianos, não conseguiu forçar-nos a fugir. E, frustrados com a resiliência palestiniana, surgiu um novo discurso, especialmente após a descoberta de um enorme campo de gás natural ao largo da costa norte de Gaza, avaliado em biliões de dólares. Esse novo discurso ecoa nas palavras do coronel Efraim Eitan, que disse em 2004: "Temos de os matar a todos." Aaron Sofer, um alegado intelectual e conselheiro político israelita, insistiu em 2018: "Temos de matar e matar e matar. O dia todo, todos os dias”.
Quando estava em Gaza, vi um menino - não teria mais que 9 anos - cujas mãos e parte do rosto tinham sido arrancados por uma explosão causada por uma lata de comida armadilhada que os soldados tinham deixado para que as crianças famintas de Gaza encontrassem. Mais tarde, descobri, também, que deixaram comida envenenada para as pessoas em Shujaiyya, e que, nos anos 80 e 90, os soldados israelitas tinham deixado brinquedos armadilhados no sul do Líbano, que explodiam quando as crianças, entusiasmadas, pegavam neles.
Apesar de causarem danos diabólicos, esperam que acreditemos que são as vítimas. Invocando o holocausto na Europa e acusando antisemitismo, esperam que suspendamos a razão humana fundamental para acreditar que o abate diário de crianças com os chamados “tiros de morte” e o bombardeamento de bairros inteiros, que enterram famílias vivas e aniquilam linhagens inteiras, é legítima defesa.
Querem que acreditemos que um homem que não comera nada há mais de 72 horas, que continuava a lutar com um único braço funcional, era motivado por uma selvajaria inata e um ódio ou inveja irracional dos judeus, e não por um desejo indomável de ver o seu povo livre na sua própria terra.
É claro, para mim, que não estamos aqui para debater se Israel é, ou não, um estado de apartheid ou um estado genocida. Este debate é, em última análise, sobre o valor das vidas palestinianas; sobre o valor das nossas escolas, centros de investigação, livros, arte e sonhos; sobre o valor das casas que trabalhamos toda a nossa vida para construir e que contêm memórias de gerações, sobre o valor da nossa humanidade e do nosso potencial; o valor dos nossos corpos e ambições.
Porque se os papéis fossem invertidos:
Se os palestinianos tivessem passado as últimas oito décadas a roubar casas judaicas, a expelir, oprimir, prender, envenenar, torturar, raptar e matar judeus; se os palestinianos tivessem matado cerca de 300 000 judeus num ano, visado os seus jornalistas, os seus pensadores, os seus trabalhadores do setor de saúde, os seus atletas, os seus artistas, se tivessem bombardeado todos os hospitais israelitas, universidades, bibliotecas, museus, centros culturais, sinagogas, e, ao mesmo tempo, tivessem criado um miradouro para que as pessoas pudessem assistir à sua chacina como se fosse uma atração turística.
Se os palestinianos tivessem encurralado centenas de milhares de judeus em tendas frágeis, bombardeando-os em "zonas seguras", queimando-os vivos, cortando-lhes a comida, água e medicamentos.
Se os palestinianos obrigassem as crianças judaicas a andar descalças com panelas vazias; se as fizessem recolher o que resta dos corpos dos seus pais para dentro de sacos de plástico; se as obrigassem a enterrar os seus irmãos, primos e amigos; se as obrigassem a escapar das tendas a meio da noite para dormir nas campas dos seus pais; se as obrigassem a suplicar pela morte só para que pudessem reunir-se com as suas famílias e não tivessem mais que estar sozinhas neste mundo horrível, e se as aterrorizassem de tal forma que elas perdessem o seu cabelo, a sua memória, que enlouquecessem e fizessem com que crianças de quatro e cinco anos morressem de ataques cardíacos.
Se, sem misericórdia, forçássemos os seus recém-nascidos a morrer, sozinhos em camas de hospital, a chorar até que não pudessem chorar mais, se morressem e se decompusessem no mesmo lugar.
Se os palestinianos usassem camiões de ajuda humanitária para atrair judeus famintos e depois abrissem fogo sobre eles quando tentavam recolher pão para um dia. Se finalmente permitíssemos a entrega de comida a um abrigo de judeus famintos e depois incendiássemos o abrigo e o camião antes que alguém pudesse provar a comida.
Se um atirador palestiniano se gabasse de ter rebentado com 42 rótulas de judeus num só dia, como um soldado israelita fez em 2019; se um palestiniano admitisse à CNN ter atropelado centenas de judeus com o seu tanque, com restos de carne presos nas lagartas.
Se os palestinianos estivessem a violar sistematicamente médicos, pacientes e outros cativos judeus com varas de metal aquecidas, paus irregulares e electrificados, e extintores, às vezes até à morte, como aconteceu com o Dr. Adnan al-Bursh e outros.
Se as mulheres judaicas fossem forçadas a dar à luz numa pocilga, a fazer cesarianas ou ter as pernas amputadas sem anestesia; se destruíssemos as suas crianças e depois decorássemos os nossos tanques com os seus brinquedos; se matássemos ou desejássemos as suas mulheres e depois posássemos com a sua lingerie…
Se o mundo estivesse a assistir à aniquilação sistemática de judeus ao vivo e em tempo real, não haveria debate sobre se isso era ou não terrorismo ou genocídio.
E, no entanto, dois palestinianos — eu e Mohammad el-Kurd — viemos aqui fazer exatamente isso: suportar a indignidade de debater com aqueles que pensam que as únicas opções de vida que nos restam são abandonar a nossa terra natal, submeter-nos à sua supremacia ou morrer educadamente e em silêncio.
Mas enganam-se se pensam que vim aqui para vos convencer de algo. A resolução parlamentar, embora bem-intencionada e apreciada, tem pouco peso no meio deste holocausto dos nossos dias.
Vim no espírito de Malcolm X e James Baldwin, que aqui estiveram antes de eu nascer, enfrentando monstros bem vestidos e eloquentes que partilhavam as mesmas ideologias supremacistas do sionismo — estas noções de privilégio e de ter direito a algo, como se fossem divinamente escolhidos ou abençoados.
Estou aqui pela História. Para falar às gerações que ainda hão de nascer e para os registos deste tempo extraordinário em que o bombardeamento massivo de sociedades indígenas indefesas é legitimado.
Estou aqui pelas minhas avós, que morreram como refugiadas sem um tostão enquanto judeus estrangeiros viviam nas suas casas roubadas.
E também vim falar diretamente aos sionistas, aqui e em todo o mundo.
Deixámos que entrassem nas nossas casas quando os vossos próprios países tentaram exterminar-vos e todos os outros vos rejeitaram. Alimentámos-vos, vestimos-vos, demos-vos abrigo e partilhámos convosco a generosidade da nossa terra e, quando chegou o momento, expulsaram-nos das nossas casas e da nossa terra, e em seguida mataram, roubaram, queimaram e, saquearam as nossas vidas.
Arrancaram-nos o coração porque é evidente que não sabem viver no mundo sem dominar os outros. Passaram todos os limites e alimentaram os impulsos mais vis da natureza humana, mas o mundo começa finalmente a ver o terror que temos sofrido às vossas mãos durante tanto tempo, e começa a ver quem realmente vocês são, quem sempre foram.
O mundo observa, atónito, o sadismo, o prazer, o entusiasmo com que conduzem, assistem e aplaudem os detalhes diários de quebrar os nossos corpos, mentes, futuro e passado.
Mas aconteça o que acontecer daqui para a frente, por mais contos de fadas que contem a vós próprios e ao mundo, nunca pertencerão verdadeiramente a essa terra. Nunca compreenderão o sagrado das oliveiras, que há décadas cortam e queimam só para nos ferirem ainda mais. Nenhum nativo daquela terra ousaria fazer tal coisa às oliveiras.
Ninguém que pertença àquela região destruiria um património ancestral como Baalbek ou Bittir, ou profanaria cemitérios antigos como fazem aos nossos, como o cemitério anglicano em Jerusalém ou os túmulos de estudiosos e guerreiros muçulmanos em Maamanillah.
Os que vêm daquela terra não profanam os mortos; por isso, a minha família cuidou durante séculos do cemitério judaico no Monte das Oliveiras — um trabalho de fé e respeito pelo que sabemos ser parte da nossa história e linhagem.
Os vossos antepassados estarão sempre enterrados nas vossas verdadeiras terras de origem, na Polónia, Ucrânia e outros lugares de onde vieram. O folclore e os mitos desta terra serão sempre estranhos para vós.
Nunca dominarão a linguagem têxtil dos nossos thobes, que brotaram da terra através das mãos das nossas antepassadas ao longo dos séculos — cada motivo, design e padrão contando segredos da flora, fauna, rios e histórias locais.
As casas a que os vossos agentes imobiliários chamam "antigas casas árabes" guardarão eternamente, nas suas pedras, as memórias dos nossos antepassados que as ergueram. Nas fotografias e pinturas antigas da terra, vocês nunca estarão presentes..
Nunca saberão o que é ser amado e apoiado por aqueles que nada têm a ganhar de vós, e tudo a perder.
Nunca sentirão o que é ver multidões pelo mundo a encher ruas e estádios a cantar pela vossa liberdade — e não porque são judeus, como tentam fazer o mundo acreditar, mas porque são colonos violentos e depravados que pensam que a vossa condição de judeus vos dá direito à casa que o meu avô e os seus irmãos construíram com as suas próprias mãos, em terras que pertencem à nossa família, há séculos. Porque o sionismo é uma nódoa no judaísmo e, de facto, na humanidade.
Podem mudar os vossos nomes para soarem mais locais e fingir que o falafel, o húmus e o zaatar fazem parte da vossa cozinha ancestral, mas, no fundo, sentirão sempre o peso deste roubo e falsificação colossais. Por isso é que até os desenhos das nossas crianças, expostos na ONU ou num hospital, fazem os vossos líderes e advogados entrar em histeria.
Não nos apagarão, por mais que nos matem e matem e matem, todos os dias. Não somos as pedras que Chaim Weizmann pensava que podiam ser removidas da terra. Nós somos o próprio solo.
Somos os seus rios, as suas árvores, as suas histórias, porque tudo isso foi alimentado pelos nossos corpos e vidas ao longo de milénios de presença contínua e ininterrupta nesse pedaço de terra entre o Jordão e o Mediterrâneo — desde os nossos antepassados cananeus, hebreus, filisteus, fenícios, até cada conquistador ou peregrino que passou, que casou ou violou, amou, escravizou, converteu, se estabeleceu ou rezou na nossa terra, deixando parte de si nos nossos corpos e na nossa herança.
As histórias tumultuosas dessa terra estão literalmente no nosso ADN. Não podem matar isso, nem propagandear isso, independentemente da tecnologia de morte que usem ou do arsenal de Hollywood e dos média corporativos.
Um dia, a vossa impunidade e arrogância vai acabar. A Palestina será livre; será restaurada à sua glória pluralista, multi-religiosa e multi-étnica; voltaremos a pôr em funcionamento os comboios do Cairo a Gaza, Jerusalém, Haifa, Tripoli, Beirute, Damasco, Amã, Kuwait, Sana e mais além; e vamos pôr um fim à máquina de guerra americo-sionista de dominação, expansão, extração, poluição e pilhagem.
… e vocês ou irão partir, ou irão aprender a viver com os outros como iguais.”